terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


Tramas do corpo de uma ponta a outra

Por Josy Panão

Um corpo que, muito mais do que ocupar um lugar no espaço, se estende para além de suas fronteiras, que se mescla com o externo ao seu redor, que intensifica seu interior a partir das trocas que estabelece. Um corpo que vai de uma ponta a outra em fluxo e doação mútua, em constante transformação. Eis um corpo que se descobre ao abrir-se para o mundo.
Do asfalto à areia da praia, passando pelo espaço virtual das redes sociais, Flávia Paiva leva um corpo singular, mas totalmente entranhado de alteridade, à invasão da paisagem. Esse corpo perturba(-se), acelera(-se), desestabiliza(-se) e inquieta(-se) (n)esses locais por onde são marcadas suas passagens.
Um fio de crochê desvela um destino instável para esse corpo que se espraia pelo mundo. Não é só uma experimentação isolada da artista diante da sensação de se colocar em relação com o outro, mas há também a reverberação desta potente descoberta de contato naquele que acompanha, vê, compartilha o desenrolar do novelo.
Pedaços de corpos em mechas de cabelos corporificam historicidades de vidas que se misturam no cotidiano sem nunca terem se cruzado. A artista, ao tramar esses fragmentos, potencializa experiências de trocas inusitadas, tece em redes possibilidades outras de vivências em espaços abertos ao poético do trabalho artístico.
A materialidade dos trabalhos De uma ponta a outra e Mechas em trama é o seu processo aberto, é o convite para embarcar na descoberta de um corpo em devir, de um corpo revelado na paisagem. Essa poética do processual é uma marca importante na elaboração das propostas de Flávia Paiva, uma jovem artista que brinca, no melhor sentido do termo, de corporificar e poetizar espaços comuns.