Tramas do corpo de uma ponta a outra
Por Josy Panão
Um corpo que,
muito mais do que ocupar um lugar no espaço, se estende para além de suas
fronteiras, que se mescla com o externo ao seu redor, que intensifica seu
interior a partir das trocas que estabelece. Um corpo que vai de uma ponta a
outra em fluxo e doação mútua, em constante transformação. Eis um corpo que se
descobre ao abrir-se para o mundo.
Do asfalto à
areia da praia, passando pelo espaço virtual das redes sociais, Flávia Paiva
leva um corpo singular, mas totalmente entranhado de alteridade, à invasão da
paisagem. Esse corpo perturba(-se), acelera(-se), desestabiliza(-se) e
inquieta(-se) (n)esses locais por onde são marcadas suas passagens.
Um fio de
crochê desvela um destino instável para esse corpo que se espraia pelo mundo.
Não é só uma experimentação isolada da artista diante da sensação de se colocar
em relação com o outro, mas há também a reverberação desta potente descoberta
de contato naquele que acompanha, vê, compartilha o desenrolar do novelo.
Pedaços de
corpos em mechas de cabelos corporificam historicidades de vidas que se
misturam no cotidiano sem nunca terem se cruzado. A artista, ao tramar esses
fragmentos, potencializa experiências de trocas inusitadas, tece em redes
possibilidades outras de vivências em espaços abertos ao poético do trabalho
artístico.
A materialidade
dos trabalhos De uma ponta a outra e Mechas em trama é o seu processo aberto, é
o convite para embarcar na descoberta de um corpo em devir, de um corpo
revelado na paisagem. Essa poética do processual é uma marca importante na
elaboração das propostas de Flávia Paiva, uma jovem artista que brinca, no
melhor sentido do termo, de corporificar e poetizar espaços comuns.